quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Bagunceiros podem se sair tão bem quanto comportados na escola


AMARÍLIS LAGEda Folha de S.Paulo

Camila Duarte Silva Corbo nunca foi exatamente um exemplo de aluna bem comportada. Agitada, batia nos colegas de turma, era indisciplinada e, se os professores lhe pedissem algo no qual ela não via grande utilidade, simplesmente não obedecia. O exato oposto de sua irmã, Paula, considerada por todos na escola uma criança muito tranqüila e sociável.
A expectativa de Cristina Duarte Silva, mãe delas, seguia a crença comum: crianças comportadas vão bem na escola, enquanto as bagunceiras ficam de recuperação. A surpresa veio no boletim: Camila, a agitada, sempre tirava notas altas.
Já Paula repetiu de ano duas vezes e sempre precisou de professor particular --ainda mais quando o assunto era matemática. "Até hoje não sei onde vou usar uma equação na minha vida", brinca Paula, atualmente com 20 anos e estudante de moda.
"Eu sempre gostei muito de estudar, principalmente matemática e ciências", conta Camila, 23, formada em educação física. Exceção à regra? Não exatamente. Um estudo recém-divulgado nos EUA defende que, ao contrário do que se pensava, o comportamento não é um fator determinante para o sucesso acadêmico.
Os pesquisadores avaliaram seis levantamentos envolvendo estudantes dos EUA, do Canadá e do Reino Unido. Na primeira fase, foram coletados dados sobre o comportamento e as habilidades das crianças quando elas estavam na pré-escola (hoje chamada de educação infantil). Anos depois, quando as mesmas crianças estavam no ensino fundamental, os dados iniciais foram comparados com as notas que elas alcançavam em testes e com relatórios de professores.
A análise revelou que os melhores alunos tinham uma característica em comum: fossem briguentos ou calmos, eles geralmente possuíam, desde pequenos, boas noções de matemática. Em segundo lugar, estava a noção de linguagem --quanto mais a criança dominava aspectos relacionados a leitura, escrita e vocabulário no ensino infantil, melhores eram suas notas nos anos seguintes.
Dentre os aspectos comportamentais, o único fator relevante para a aprendizagem foi a capacidade ou não de manter a atenção, segundo a pesquisa. Outras questões, como agressividade, desobediência, ansiedade e impulsividade, não foram relacionadas ao desempenho escolar das crianças nas fases posteriores.
O estudo contraria outras pesquisas já feitas nas áreas de desenvolvimento infantil que associam o mau comportamento a um pior rendimento escolar. No ano passado, por exemplo, um estudo publicado no "Journal of Educational Psychology" também acompanhou alunos do ensino infantil à quinta série e constatou que crianças que não se dão bem com as outras deixam de se envolver nas atividades na sala de aula e aprendem menos.
"Uma associação simples sugere que crianças que não se adaptam tendem a aprender menos", disse à Folha Greg Duncan, professor da Universidade de Norhtwestern (EUA) e coordenador da nova pesquisa. "Mas essa relação entre o comportamento na pré-escola e a aprendizagem nos anos seguintes desaparece quando levamos em conta o conhecimento [de noções de matemática e linguagem] que as crianças já tinham."
Maria Irene Maluf, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, confirma o resultado da pesquisa de Duncan: mau comportamento nem sempre significa notas baixas e bom comportamento não garante sucesso escolar.
Ainda assim, ela critica aspectos do trabalho, em especial o fato de o sucesso acadêmico ser medido basicamente pela aquisição de conteúdo. "O papel da escola mudou", afirma Maluf. "Antes, a função era informar. O professor passava as informações como uma enciclopédia. Hoje, o professor é um mediador da aprendizagem, incluindo a aprendizagem social. É preciso formar o cidadão --uma pessoa capaz, autônoma e consciente. Esse trabalho começa na pré-escola, pois ninguém vai formar um cidadão aos 18 anos de idade."
"O principal objetivo da educação infantil não é o conteúdo acadêmico. O aluno não está preparado para assimilar conceitos. A criança dessa faixa etária tem noções de tempo, de números, mas a assimilação de conceitos só vai acontecer aos sete anos", afirma Fernanda Gimenes, coordenadora pedagógica da educação infantil e do primeiro ano do ensino fundamental do colégio Pueri Domus em Barueri (SP).
Para ela, a educação infantil tem efeitos positivos na vida escolar do aluno quando o trabalho realizado é integral, contemplando o desenvolvimento tanto de aspectos psicológicos e afetivos quanto das habilidades cognitivas das crianças.
Para Maluf, o acompanhamento adequado nessa fase é fundamental porque é até os seis anos que se formam as principais características da personalidade da criança. "Se não mexer enquanto ela é novinha, depois fica muito mais complicado. Se ela continuar agressiva no ensino fundamental, por exemplo, o professor tenderá a mandá-la para fora da sala de aula -o que é errado- e ela aprenderá menos."
Em sua pesquisa, o norte-americano Greg Duncan observou uma continuidade de problemas sociais e emocionais nas crianças que já apresentavam esse perfil aos cinco ou seis anos. "Mas isso é variável. Alguns problemas foram persistentes, mas outros, transitórios", disse.
É normal?
É essa variação que aflige muitos pais: como saber se a agressividade ou a ansiedade do filho é resultado de uma situação temporária ou sinal de um problema mais sério?
Especialistas afirmam que o primeiro passo para responder a essa questão é avaliar o próprio ambiente familiar. "Os pais devem se perguntar: eu educo bem, dou limites? Cerca de 90% dos problemas de comportamento de pré-escolares se devem à falta de educação por parte dos pais e só 10% estão relacionados a patologias neuropsiquiátricas", diz Maluf.
Alunos que não respeitam os colegas, por exemplo, podem estar apenas repetindo atitudes que vêem em casa, diz ela. Outro agravante é a superproteção: crianças que são protegidas em excesso pelos pais podem ter mais dificuldade para lidar com frustrações e reagir pior quando suas necessidades não forem atendidas.
Além disso, a agitação pode ser uma reação a fatores estressantes. "Mudanças bruscas, como a separação dos pais, e excesso de estímulos, como cursos de inglês, de balé etc., podem deixar a criança agitada. Nesse caso, seu comportamento é uma reação a uma situação ruim", afirma Luiz Renato Rodrigues Carneiro, professor de neurociência das universidades Ibirapuera e Mackenzie, em São Paulo.
Segundo ele, também é fundamental observar aspectos como a freqüência e o local em que os problemas ocorrem. A criança bateu só uma vez em um coleguinha ou isso se repete todos os dias? O mau comportamento ocorre em todos os locais ou em um ambiente específico, como a escola?
De acordo com as respostas a essas perguntas, pode ser indicado procurar um profissional especializado para fazer um diagnóstico da criança.
Entre as patologias, uma das causas mais comuns de problemas de comportamento é o TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), que, estima-se, atinge 5% das crianças em idade escolar.
TDAH
Iannis Castilho Farjo, 13, está nesse grupo. Há cinco anos, ele começou a se desinteressar pelo ambiente escolar. Na época, isso foi associado à mudança de colégio. Como o problema persistiu nos anos seguintes, a pediatra e os professores do menino sugeriram que sua família o levasse a um neurologista, onde ele foi diagnosticado com o transtorno.
"Foi uma surpresa", conta a professora Kathia Castilho, 46, mãe de Iannis. Afinal, o menino não era extremamente agitado. O que ela não sabia é que nem toda criança com TDAH apresenta o "quadro completo": algumas podem ter déficit de atenção e não serem hiperativas e outras, embora sejam muitas agitadas, podem não ter problemas de concentração.
Para aumentar sua capacidade de atenção, Iannis começou a fazer atividades como tocar violão e praticar kung fu. O processo foi acompanhado na escola por meio de medidas especiais, como a possibilidade de as provas serem acompanhadas de perto por um professor, que verifica se o aluno prestou atenção na pergunta e entendeu o que está sendo pedido.
Com o tempo, Iannis recuperou as boas notas --vai bem principalmente em geografia. A disciplina favorita? "Educação física", brinca ele.
Embora o TDAH não seja um transtorno de aprendizagem, até 30% dos casos costumam ser acompanhados por problemas desse tipo, como a dislexia, afirma Fabio Barbirato, chefe de psiquiatria da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro e professor da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica).
Além disso, diz, pesquisas têm observado cada vez mais a ocorrência do TDAH com outros problemas, como depressão e transtorno bipolar. O ideal, afirma, é que qualquer transtorno seja identificado o antes possível, já que isso facilita o tratamento.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Confira dicas para brincar melhor com os filhos



AMARÍLIS LAGEda Folha de S.Paulo

Leonardo Wen/Folha Imagem

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Então você estudou, acumulou uma grande experiência, aprendeu várias línguas, sabe trabalhar em grupo e busca se manter atualizado. Mas, para completar o currículo de pai ou mãe, é preciso mais um pré-requisito: você sabe brincar?

Saber brincar tem como resultado um vínculo ainda mais forte entre pais e filhos
Não se trata aqui de dar o carrinho de última geração, jogos eletrônicos ou bonecas que cantam, dançam e dão piruetas, e sim de acompanhar os filhos durante as brincadeiras: sentar no chão, botar a mão na massa e se soltar um pouco de regras e objetivos pedagógicos.
Essa interação faz com que as crianças se sintam protegidas e valorizadas e permite que os pais as conheçam melhor. O resultado é um vínculo ainda mais forte entre ambos.
"Alguns adultos parecem ter esquecido como brincar. Mas quem tem dificuldades precisa se adaptar e arranjar um jeito de brincar com o filho. Quem não tem vocação para fantasiar pode tentar fazer um exercício junto, ler um livro etc. Mas, principalmente, observar a criança, para se familiarizar com a linguagem dela", sugere Maria Irene Maluf, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia.
Para auxiliar nessa redescoberta do universo lúdico, a Folha pediu para especialistas apontarem os erros mais comuns dos pais. Veja a seguir quais são os "sete pecados capitais" do playground e aprenda como agir para ser promovido a "pai ludens".
1 Achar que brincadeira é perda de tempo
A cena: Na agenda da criança tem escola, curso de línguas, aulas de esportes etc. Só não tem tempo para pular amarelinha ou empinar pipa. Para muitos adultos, brincar não é uma prioridade, e sim uma atividade supérflua.
Comentário: Brincar é algo fundamental para o desenvolvimento da criança. É por meio de jogos e de situações de faz-de-conta que ela compreende as regras sociais, desenvolve habilidades físicas, aprende a lidar com os próprios sentimentos e se prepara para os desafios da vida adulta.
Quando os pais participam da brincadeira, as vantagens são muitas para os dois lados. "Os pais são os principais parceiros da criança. Eles podem oferecer a ela um repertório de brincadeiras que ela não conhece e também ampliar a forma de brincar. Quando os pais se propõem a fazer isso, eles ajudam no desenvolvimento da criança", afirma a pedagoga Edilene Modesto de Souza, pesquisadora auxiliar da brinquedoteca da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Além disso, a brincadeira facilita a construção de vínculos com o filho. "Na brincadeira, a criança se expõe, ela externaliza o que está sentindo e fala de coisas internas que, às vezes, os pais desconhecem. Isso os ajuda a conhecer mais o filho", ressalta a pedagoga.
2 Querer ser "o dono" da brincadeira
A cena: Convencido dos benefícios que brincar com o filho traz, o pai se aproxima da criança com uma caixinha de ferramentas. A caixinha é logo transformada em avião, mas o pai quer brincar do "jeito certo", ensinando o filho a encaixar o parafuso de plástico no suporte.
Comentário: O lado meio "mandão" dos adultos é um dos primeiros aspectos apontados pelas especialistas ouvidas pela Folha. "Muitos pais dizem 'vamos jogar bola' sem perguntar ao filho se ele quer mesmo jogar bola", comenta Marilena Flores, presidente da IPA (Internacional Playing Association, no Brasil, Associação pelo Direito de Brincar).
O adulto também não precisa encarar a brincadeira como o momento de "ensinar alguma coisa à criança". Alguns jogos, como damas, realmente têm regras, e as crianças precisam de alguém que as mostre como jogar. Mas elas também são capazes de criar suas próprias regras: ao brincar de casinha, por exemplo, podem estabelecer que a girafa é "mãe" do cachorro e que a banheira fica na sala. Dentro do contexto, isso será o "certo" e deverá ser respeitado.
Em outros casos, a criança pode tentar montar uma torre, por exemplo, encaixando as peças de um jeito errado -e os pais não precisam ficar corrigindo seus movimentos. "O que é eficaz na brincadeira é o exercício do ensaio e do erro. Se o adulto dirige demais, esperando um resultado, aquilo deixa de ser brincadeira e vira uma relação formal, um exercício didático, que é angustiante para a criança", afirma Gisela Wajskop, diretora do Instituto Superior de Educação de São Paulo/ Singularidades.
3 Ficar ansioso
A cena: A sobrinha do vizinho já sabe empilhar blocos de madeira. Mas seu filho, da mesma idade, ainda não consegue fazer isso. É o suficiente para o pai ficar preocupado com o desenvolvimento do menino, com medo de que ele esteja "atrasado".
Comentário: Toda criança tem seu próprio ritmo. Desrespeitar isso, para "acelerar" a aprendizagem do filho, pode ser prejudicial. "Isso desorganiza a experiência da criança, que se sente incapaz e frustrada por não conseguir responder à expectativa dos pais e pode pode passar a exigir muito de si mesma", explica a psicóloga Vera Zimmermann, coordenadora do Cria (Centro de Referência da Infância e Adolescência da Universidade Federal de São Paulo).
A pedagoga Edilene Souza dá uma dica para os pais. "A sensibilidade para o desenvolvimento da criança pode ser feita por meio de desafios. O pai pode colocar uma situação nova para a criança e ver como ela reage. Depois, oferecer novas possibilidades para explorar aquele brinquedo, sempre colocando um desafio a mais. Se o desafio for muito grande e ela desistir de brincar, você perceberá que aquele é o limite dela."
4 Ser superprotetor
A cena: Os pais anseiam por um desenvolvimento veloz do filho, mas, paradoxalmente, impedem que a criança tenha uma série de experiências que a ajudariam a progredir. O menino quer brincar na areia? Não pode. Escalar no trepa-trepa? Também não. Tudo por medo de que ele possa se machucar ou adoecer.
Comentário: A preocupação não é infundada. De acordo com um levantamento divulgado neste mês pela ONG Criança Segura, os acidentes são a principal causa de morte de crianças e adolescentes de um a 14 anos. Mas o cuidado não pode prejudicar a autonomia da criança, fundamental para que ela possa se desenvolver plenamente. O importante é ficar de olho nelas, sem podá-las em excesso.
"Conheço muitas mães que vivem com o filho no colo, dão comida na boca, entregam o brinquedo na mão e depois reclamam que ele ainda não aprendeu a andar. Criança tem que cair algumas vezes. Só assim ela vai aprender a andar direito. Claro que é preciso minimizar riscos -não vamos deixá-la subir numa árvore muito alta, por exemplo", comenta Glaucia Maciel, diretora do centro de desenvolvimento infantil Steps Baby Lounge.
Um pouco de "sujeira" também é bom, afirma Marilena Flores, da IPA. "Crianças pequenas têm um vínculo muito forte com a natureza: gostam de mexer com terra, água, plantas e animais. Esse contato é bom para o desenvolvimento sensorial delas."
5 Ser sexista
A cena: A filha quer um carrinho. O filho quer uma boneca. E o pai quer convencer as crianças a optarem por outros brinquedos. Embora se preocupem com brincadeiras de conteúdo violento ou racista, muitos adultos mantêm uma orientação sexista na hora de brincar com as crianças.
Comentário: Ao brincar, a criança faz projeções da sociedade em que vive, que tem tanto homens quanto mulheres. Assim como as mulheres dirigem e os homens cuidam dos filhos, a menina pode brincar de carrinho e o menino, de boneca. Segundo especialistas, isso não interfere de forma alguma na sexualidade da criança. "O problema ocorre se os adultos ficarem recriminando-a e reforçando que 'isso é coisa de mulherzinha'. A gente precisa largar alguns paradigmas", afirma Marilena Flores.
6 Intervir nos conflitos
A cena: O pai vê seu filho discutindo com outra criança durante um jogo. Em seguida, entra no meio da confusão, briga com todo mundo e avisa que a brincadeira acabou.
Comentário: Mais uma vez, o ideal é estimular a autonomia das crianças. Um dos benefícios de brincar é desenvolver o autocontrole e aprender a negociar com o outro até encontrar uma solução.
Nem sempre, porém, essa liberdade é possível. Até os dois anos, a criança não tem noção dos limites entre ela e outras pessoas e, quando frustrada, vai reagir fisicamente.
À medida que cresce, ela entende melhor esses limites e pode resolver os problemas com os coleguinhas por meio da fala, mas isso vai depender da capacidade de comunicação da criança.
Se houver agressão física, o pai deverá intervir. O erro, porém, é adotar uma postura violenta. "Depois, é importante chamar a criança para analisar a situação. Perguntar por que o coleguinha ficou bravo, o que ela sentiu, o que poderia ter feito de diferente. Isso favorece a reflexão", afirma Vera Zimmermann, da Unifesp.
7 Ser politicamente correto
A cena: Bater no coleguinha, claro, é errado. Mas e brincar de luta? O conteúdo violento de algumas brincadeiras deixa muitos pais em dúvida na hora de permitir ou não que os filhos façam algo.
Comentário: "Muitas vezes, os pudores dos adultos limitam a criança. Eles não percebem que a brincadeira pode ser uma leitura crítica que ela faz de algum assunto", afirma Gisela Wajskop. Ela explica que, quando a criança canta "atirei o pau no gato", por exemplo, isso a ajuda a lidar com uma violência simbólica e a ter controle sobre isso. O mesmo vale para o castigo à bruxa ou aos ogros no final dos contos de fadas.
Além disso, afirma ela, os jogos de guerra, tradicionais em todas as culturas, "oferecem contato físico, ajudam a criança a lidar com a idéia de força e fraqueza e a testar a resistência à dor."
Mas é preciso prestar atenção para saber se a agressividade manifestada nas brincadeiras não reflete uma exposição do filho a uma realidade violenta. "O pai não deve ficar preocupado, mas atento. Se a criança estiver muito violenta, pode estar repetindo o que vê."

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Mapa da mina para pais e mães angustiados

MÁRCIA DETONI
da Folha de S.Paulo
www.folha.uol.com.br

"Em que escola colocar o meu filho? Devo optar por uma mais tradicional, já que a educação em casa é liberal? Ou procurar a que prioriza o conteúdo, já que o mercado de trabalho não está brincadeira? Se bem que dizem que uma escola perto de casa é melhor!" É difícil encontrar pais que não passaram ou não vão passar por angústias desse tipo, seja na escolha da escola que a criança vai frequentar ainda de fraldas ou do colégio de ensino fundamental.

Para começar, desista de encontrar a melhor escola -ou a escola mais "forte", como dizem alguns. Os especialistas simplesmente garantem que ela não existe. "O que existe são escolas que priorizam o conteúdo e escolas que privilegiam as atividades que estimulam a curiosidade, o gosto pelo saber, a cidadania e o pensamento autônomo", diz a psicopedagoga Glaura Fernandes. Mas todas têm de cumprir o currículo mínimo determinado pelas políticas educacionais do país.

"E qual das duas linhas é a melhor?", perguntaria alguns dos pais angustiados. A psicóloga e colunista da Folha Rosely Sayão diz que, para encontrar o melhor caminho, os pais devem fazer outra pergunta a si mesmos: "Como eu gostaria que meu filho fosse educado?".

Do ponto de vista prático, os pais devem, primeiro, visitar a escola e questionar amplamente a sua proposta pedagógica (leia na página 13 uma relação de critérios básicos a serem observados na pré-escola e no ensino médio e fundamental). Depois, é preciso analisar se a linha da escola é adequada aos valores da sua família e também ao temperamento da criança, diz Sayão.

A tendência atual da escola, segundo o professor da Faculdade de Educação da USP Julio Groppa Aquino, é preparar o aluno para a vida, e não para o mercado de trabalho. Ele adverte que escolas muito preocupadas com o conteúdo acabam estressando a criança com excesso de informação e tarefas só para que o pai sinta que o filho está pronto para o mercado de trabalho.

"Isso não faz sentido. O aprendizado tem de ser lento, não é preciso ter pressa. É melhor que a criança saiba pouco, mas bem, do que saiba muito, mas mal", diz Aquino, acrescentando que o ensino voltado para o vestibular "só imbeciliza a criança".

O professor Sylvio Gomide, presidente do Grupo (associação que reúne 44 escolas particulares da capital paulista), observa que o próprio vestibular está começando a mudar e que muitas universidades, como a USP e a Unicamp, já estão avaliando a capacidade crítica e a autonomia de pensamento do vestibulando.

"A tendência hoje é investir cada vez mais em formação. Com tantos meios disponíveis, as crianças recebem muita informação fora da sala de aula. Quando o professor vai abordar um assunto, o aluno já teve contato com ele na internet ou em outro lugar", comenta.

Questões como cidadania e ética, segundo Gomide, também recebem atenção nas escolas particulares elitizadas (o preço médio da mensalidade nas escolas do Grupo é R$ 550). "Não era assim antes dos anos 80, mas, de uns tempos para cá, virou preocupação constante da escola particular fazer com que as crianças de famílias com mais dinheiro estejam "plugadas" na realidade do país", afirma.

Mas essa opinião tão categórica dos especialistas não é facilmente assimilada pelos pais, mesmo por aqueles que, no início da vida escolar dos filhos, optaram pelo método mais atual.

Ao escolher a pré-escola dos filhos, Jonas, 5, e Theo, 2, a economista Gládis Ribeiro e o marido tinham claro o que queriam para filhos: uma escola que desenvolvesse a curiosidade e estimulasse o amor pelo conhecimento. O casal optou pela Escola Viva, localizada no bairro Vila Olímpia, na zona sudoeste de São Paulo, cuja linha pedagógica, segundo Gládis, prioriza o aprendizado através das artes e de vivências do cotidiano.

Apesar de gostar do método moderno usado na educação de seus filhos, ela ainda não decidiu se vai manter as crianças na mesma escola quando chegarem ao ensino fundamental. Não foi uma boa escolha? "É impossível um pai estar 100% satisfeito porque sempre há dúvidas", diz ela. "A linha pedagógica é mais experimental, e não sei se eles vão conseguir competir com alunos das escolas tradicionais, que recebem mais conteúdo", comenta.

As dúvidas de Gládis sobre o peso do conteúdo na formação escolar são as mesmas de muitos pais educados pelos métodos pedagógicos de 30 anos atrás, que tiveram de decorar muitas fórmulas e conceitos para passar no vestibular e seguir uma carreira.

Seja qual for a opção de escola, preste muita atenção à reação de seu filho, ele é um termômetro valioso. Se estiver feliz e interessado em aprender, é um sinal de que a escolha foi boa. Se estiver desanimado e com rendimento escolar baixo, converse com os professores e orientadores pedagógicos dele, diz Fernandes.

Isso não significa que conflitos na escola são motivo para mudança. "Nem sempre é necessário mudar de escola. Às vezes, a criança está muito cansada, e é preciso apenas recuar na carga horária", diz Fernandes. Outras vezes, o problema pode ser solucionado com a ajuda de um orientador ou de um psicólogo.

O publicitário Paulo Labriola, 43, percebeu que seu filho, Pedro, 10, um garoto introspectivo e com boas notas, estava tendo dificuldades no relacionamento com os colegas. Labriola conversou com os orientadores da escola Vera Cruz, no bairro Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, e chegou à conclusão de que mudar não seria a solução.

"Tenho amigos que já tiveram problemas e foram mudando de escola até encontrar a que se encaixava, mas não era o caso. Pedro, por ser filho único, não tinha treino de relacionamento", comenta. Pedro teve sessões de terapia e hoje está contente.

Mas, se o aluno em questão é um adolescente e a idéia de trocar de escola o agrada, a medida é positiva, porque trará novos conhecimentos e oportunidades. A criança não precisa, necessariamente, frequentar a mesma escola do fundamental ao ensino médio, diz Fernandes.

Se, durante o processo de escolha da escola, é aconselhável que os pais promovam um amplo questionamento a respeito dos métodos da instituição, após tomada a decisão, eles devem delegar. É um erro bastante comum atravessar o ano letivo discutindo com a escola os procedimentos dos professores no dia-a-dia. Feita a matrícula, dê o necessário voto de confiança.

Lembre sempre também que a escola é responsável apenas por uma parte da formação da criança. "Quem educa o filho é o pai", salienta Sayão.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A influência da informática no desenvolvimento infantil

Por:
Wagner Antonio Junior
Faculdade de Ciências
UNESP – campus de Bauru
wag.antonio@gmail.com
pedagogia.brasilescola.com

Um dos objetivos da introdução dos computadores na vida das crianças é que esta tecnologia estimule suas mentes e potencialize seu desenvolvimento intelectual, paralelamente ao seu desenvolvimento psicossocial, uma vez que sua coordenação motora está se estabelecendo concomitantemente a seus gostos e relações sociais.
A proposta de utilizar os computadores no processo educativo desde as séries iniciais é de Papert, pois segundo sua proposta o computador iria “ampliar a escola”, revolucionar a educação e reformular a mente das crianças. Sua linguagem de programação, projetada especialmente para crianças, deveria provocar o estímulo para essa revolução. Influenciado pelo psicólogo e filósofo Jean Piajet, com quem estudou, Papert afirma ter combinado complexas teorias de desenvolvimento infantil de Piajet com seu próprio trabalho no campo da inteligência artificial.

Essa fusão aparente levou à criação da linguagem Logo, que Papert esperava a sistematização do uso de computadores no aprendizado, iniciando-se na pré-escola ou até mesmo em anos anteriores.

No sistema educacional brasileiro a implantação de computadores nas escolas é mais comum a partir do início do Ensino Fundamental, embora algumas instituições iniciem esse processo desde a Educação Infantil, o que, no entanto, não representa um número expressivo. Portanto, segundo a realidade brasileira, os primeiros contatos da criança com o computador em seu processo de aprendizado se darão, aproximadamente, a partir dos seis a sete anos de idade.

Segundo Erickson, a criança dessa faixa etária encontra-se na fase de latência na teoria freudiana, esta é a idade do domínio versus inferioridade, que vai dos seis aos doze anos. A principal realização deste estágio de aprendizagem das habilidades tanto na escola quanto fora dela. Em Piaget, este período corresponde à fase de centralização, onde a criança consegue perceber apenas um dos aspectos de um objeto ou acontecimento (estágio das operações concretas), ela não é capaz de relacionar a si mesma com os diferentes aspectos e dimensões de uma situação.

Para a inicialização da criança com o computador, é missão da escola atender a esse aprendiz, tornando significativo o seu aprendizado, enfatizando o “aprender” e não o “ensinar”, pois o conhecimento provoca mudanças e transformações.

Cabe ao educador tornar o computador uma parte do ambiente natural da criança, explorando todas as possibilidades que o computador lhes oferece, assim como afirmava Papert, trabalhando principalmente os softwares, em que grande parte da atenção está voltada, sendo eles: Logo, softwares educacionais, softwares de simulação e programação, softwares gráficos.

Para a aplicação dos softwares como ferramenta pedagógica, cabe ao educador considerar as competências intelectuais autônomas do ser - humano. Em Gardner, temos postuladas sete competências, ou inteligências múltipas, a saber: 1) inteligência lingüística; 2) inteligência lógico-matemática; 3) inteligência corporal-cinestésica; 4) inteligência musical; 5) inteligência espacial; 6) inteligência intrapessoal; 7) inteligência interpessoal. Gardner ainda explora uma oitava inteligência e, embora existam outras, ainda se encontram em fases de pesquisa.
Através da utilização do computador no processo educacional, diversas habilidades podem ser desenvolvidas simultaneamente, facilitando a formação de indivíduos polivalentes e multifuncionais, diferentemente.

Espera-se que sua utilização promova aulas mais criativas, motivadoras, dinâmicas e que envolvam os alunos para novas descobertas e aprendizagens, proporcionando aos mesmos autonomia, curiosidade, cooperação e socialização, principalmente quando da utilização da internet que possibilita diversos tipos de comunicação e interações entre as culturas de forma bastante enriquecedora.
Portanto, durante estes primeiros contatos, considerando o desenvolvimento intelectual e psicológico dessas crianças e o material pedagógico trabalhado durante este período, elas apresentam um comportamento de interesse e motivação, embora algumas se sentem apreensivas diante desse primeiro contato e de suas novas descobertas.

REFERÊNCIAS

ERICKSON, Erick. Infância e sociedade. Rio de Janeiro, Zahar, 1976.

GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

PAPERT, Seymour. Logo : computadores e educação. São Paulo: Brasiliense, 1988.

PIAGET, Jean. Aprendizagem e conhecimento. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1979.